terça-feira, 10 de agosto de 2010

Minha benção na Primeira Missa (10/08/2010)

E quando tudo acabar
No fim da festa um sorriso fugaz
Pelo menos.
E encara com um desolhar estranho
Ao olhar pra traz

E querer ter o álcool
E alimentar a alegria
E desejar estar no lugar
De todas as desgraças dos outros,
Acreditando que não terei apocalipse
Quando abrir a porta de casa.

Para quando chegar
Cambalear pelas paredes sinuosas
E atirar-me incólume à cama
E abraçar os travesseiros
Conforme meus únicos consolos
E me esquecer de que não fui ninguém
Enquanto alguém tentava ter
O que só a mim pertence.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Morfina (09/08/2010)

Nesta vida
Cheia de agitações tardias,
Conformo-me com a frieza dos dias
Onde sinto na alma o sumo açoite
De entregue ao corpo estranho pela noite.

E assim mesmo, sacudida, não me ama
E não me vê, não me olha, não me chama
Mas deste prêmio corpo eu divido a cama
E se a alma esfria, o lábio tenso inflama.

E engano-me com o canto colibri de flautas
Quando há mesmo o som de um murmúrio em praça incauta
E envergonho-me enquanto o choro sobressalta
Por uma febre que temo e assusta, mas falta.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Antes da Dor a Amizade - 03/07/2007

Existem poemas que saem automaticamente. Mas o automático de que falo é aquele do sentimento automático. Sentimento automático? Sim, automático. Eu amo automaticamente as pessoas. Há pessoas que a convivência em nossas vidas torna-se quase tão obrigatória quanto respirar, e a estas pessoas eu sinto vontade de dedicar a minha vida. Não uma dedicação escrava e obrigatória, mas uma dedicação que vem da vontade do coração. Quando o coração sente necessidades de estar junto, de estar perto. Não existe nada mais sublime nesta vida do que a companhia de um amigo, e ai, quando dá a vontade de estar junto, a vontade de cuidar, a vontade de dividir a vida... isso é amor. E eu amo a pessoa para quem dediquei este poema. Descobri esse amor a medida em que ia tecendo as linhas abaixo. Na vida e na morte, na tristeza e na alegria, no estupor doentio da paixão ou na doçura cálida da ternura, existirá o nosso amor.

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Antes da Dor a Amizade


Teus olhos me lembram o tempo da escola
E agora debaixo da goiabeira eu faço o madrigal
Cada teco de tinta é uma lágrima de lamento
Pelos dias que não vivi.
Desde o dia destes olhos que eu vi...

E para longe foram eles minha raiva carregando
Que era máscara para a minha covardia.
Vivemos promessas de eternas alegrias,
Mas sempre em decepções voltávamos chorando.

E não importa
Com quantas moças ou rapazes nos deitemos,
Por que ao fim do dia, quando tudo parecer perdido,
Com doces olhos, na real, nos encaremos,
E um ou outro suspirando irá dizer:
Você vai sempre estar comigo!

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Às Flores - 13/03/2007

Quem olhar para o céu agora
Verá uma aura cor de rosa
Cor de qualquer coisa
Como o arco-íris.

E qualquer seria se fosse qualquer coisa
O mel em meus lábios
É ferrão nos dos outros
Pois olhos de flechas
Não atingem a armadura dos nossos corações

E estes mesmos olhos colidirão consigo mesmos
E não verão qualquer coisa
Pois o amor que falsamente se propaga
E nestes olhos vis se estraga
Como doce fruto em meu peito se aloja

Trazendo-me das mais impuras noites
Desde as mais insanas orgias
Em alucinações céticas embriagadas

O mais doce canto de tua mãe
Sob a relva que repousa tuas angústias
O mais puro encanto de meu pai.
O mais doce néctar de teu ventre.

Espinhos

O que vem da dura flor, em flor fiel perdura.
Semente flora. Pétala inóspita, candura.
Aviva-se o espinho, altiva-se a ternura.
O norte é confuso, a dúvida é a cura.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Genesis

Gemina a semente pequenina
Cuida bem da terra vespertina
Rega água pura e cristalina
Nasce uma flor, uma menina

Nasce uma dor, escondida
De fel e fundo misteriosa
Vem a alma fendida
Avança fria e sombrosa.

Olhos cor de esmeralda
Pele de flanco macio
Toque flébil esbalda
Fora cheio, dentro vazio.

Gemina o gémem
Semina o sémem
Domina o impem
Defina o hímen

sábado, 2 de janeiro de 2010

Quando a mais bela canção toca (02/01/2010)

Teu suave toque
Faz o meu amor descer
Eu sinto o choque
Eu deito, eu paro
Meus lábios te envolvem
Fazem teu amor crescer.

Eu subo e busco o meu véu
Eu caio, desço, estou no céu
Eu desfaleço, deslizo, desleixe
Tuas mãos firmes escalando a montanha
Teu toque débil larga-me nas curvas
A respiração falha, a vista turva
Separa, eu paro, e faço manha.

Eu vejo cores que não conheço
Eu desconheço o meu lugar
Tua unha, teu sangue, meu rosnar
Eu te tenho eu me esqueço
Eu te explodo eu me explodo
Cai
Deita
Desfaz
Desfalece
É sono, quero descansar.