quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Anactesia

Atenta a esta embriaguez plástica
Sei que não sou tola meu amor
Sei que esse mundo é pura lástima
Mas porque corrói-me a coragem pela dor?

Se por um momento apenas, 
Esta alma endócrina
Pudesse se livrar de tanta perdição
Ser pura, cristalina, leve como a mão
De uma poente virgem que em tudo se acredita
E exintguisse do mundo cada passo vacilante
Cada interrogação.

E por esse epítome de vida, viva inteireza
Que certos seres nada querem senão provar
Um gosto dessa plenitude beleza
Enquanto prófugos vagabundos vão

Daqui desse poço torturante
O mortal caminha, furioso
Ora consternado, ora questionando
Ora vai sem se lembrar
E tem hora que até procura aceitar
Que mal há, oh espírito convalescido?
Que mal faria, se diante dessa tortura errante
Pudesse ter o vislumbre da luz mais cálida
E que varresse da alma por instante
Toda a tristeza, todo o mal
Num aviso nobre e que emociona:

Meu filho que em mim não crê
Crê que aí resido, toma esse corpo
Vive uma porção do que o paraíso te aguarda
Tenha nesse agora um pouco da sua calma.

Mesmo cruel, permitindo que após a vida continue
Que continue menos denso de agonia
Que a conclusão de toda esta bagunça venha
Ela existe, ela está, ela é minha.