quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Anactesia

Atenta a esta embriaguez plástica
Sei que não sou tola meu amor
Sei que esse mundo é pura lástima
Mas porque corrói-me a coragem pela dor?

Se por um momento apenas, 
Esta alma endócrina
Pudesse se livrar de tanta perdição
Ser pura, cristalina, leve como a mão
De uma poente virgem que em tudo se acredita
E exintguisse do mundo cada passo vacilante
Cada interrogação.

E por esse epítome de vida, viva inteireza
Que certos seres nada querem senão provar
Um gosto dessa plenitude beleza
Enquanto prófugos vagabundos vão

Daqui desse poço torturante
O mortal caminha, furioso
Ora consternado, ora questionando
Ora vai sem se lembrar
E tem hora que até procura aceitar
Que mal há, oh espírito convalescido?
Que mal faria, se diante dessa tortura errante
Pudesse ter o vislumbre da luz mais cálida
E que varresse da alma por instante
Toda a tristeza, todo o mal
Num aviso nobre e que emociona:

Meu filho que em mim não crê
Crê que aí resido, toma esse corpo
Vive uma porção do que o paraíso te aguarda
Tenha nesse agora um pouco da sua calma.

Mesmo cruel, permitindo que após a vida continue
Que continue menos denso de agonia
Que a conclusão de toda esta bagunça venha
Ela existe, ela está, ela é minha.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Crepúsculo

Ai, as minhas dores íntimas
Que enlouquecidas berram aqui dentro
Pois lá longe já anuncia o Astro
Que seu posto por hoje já está feito!

E de tantas coisas perturbantes
Não há nada que seja tão constante
Que o anúncio do crepúsculo
Para o martírio dos malditos solitários!

E este céu vermelho roxo e azulado
Cuja cor duvida as minhas seguranças
E prossegue nessa rubra e fria perdição
Como o ar seco que nos sobre na garganta.

E vindo junto com a triste escuridão sombria
Um coral, um cântico, um murmúrio
De vozes ressonâncias do silêncio
De sofrer por um só o que ninguém sofria!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Boca - 19/07/2007

Desce o decote e o suor vivo do teu peito
A ânsia amarga cobre a língua do meu leito
Mechas vivas meneantes cambaleiam
Braços fortes como farinha esperneiam.

Boca, vil e doce.
Diz palavras da inatingível distância
De mãos dadas subimos sete degraus
Descemos rolando três
E paramos no parapeito do apartamento.

Bateu a porta
Entrei pela direita
Jogou-me suas bonecas de diversas facetas
Rodávamos felizes, palavras, caretas.
E a sua boca.

Entreabertas linhas curvilíneas
Baba escorre pelas beiras
As carnes quentes laterais
Líquido aos conteúdos viscerais.

Boca,
Dela que dá origem à vida
E daí então até à morte
Ter-te comigo é plena sorte

Mechas vermelhas insanas
Rodelas pratas carinhosas
Cachos negros agressivos
Réguas louras abusivas.

Da boca
O grito
O amor.

Casa de Espelhos - 05/07/2007

Desperta da erupção
Tuas mãos leves tocam meus ouvidos
Ardem ainda as marcas nas costas
Escorre-me a vida pelo lençol
Sorriso débil de encantamento

Mas é um espanto!
Choro convulsiva desespero!
Apavorada por ingrata atitude
Pois trocou todo o amor que tenho
Por essa vil casa de espelhos.

J'aime la Femme - 04/07/2007

E s cusa-me imenso amor, oh Lídia
D e sfaço da minha vida inteira
E x cessos de estupor, perfídia
M o mentos de mania trigueira.

E c rustrada no canto do quarto
V o u remoendo as faces molhadas
A m adas vezes gestos amada
E por vezes sempre apedrejada

S a lvo teu amor pela certeza
A m enizada sempre beleza
F o me sentida pelo teu beijo
O r a de amiga, ora desejo.

Minhas Noites de Amor - 04/07/2007

Parto do egocentrismo esmero rutilante
Palavras sem sentido vulcões erupções
Artes geográficas parábolas diastráticas
Meninas solitárias vis acontecimentos
Espaços vazios erros tormentos

Tudo o que eu quero é um beijo seu
Tua boca rósea de seda
Teus medos morais
Tuas vozes imortais
O amor à minha imagem e semelhança.

Rosas Azuis - 16/03/2007

Não tenho vergonha de regar minhas flores
Que antes negras e reprimidas
Sorriem em liberdade sem as pétalas da moral
Pois na moral meu sorriso se perde.
Quando do perfume de teu peito
Me vejo entre as brumas quentes do teu leito
E hoje carrego uma rosa em minha fronte
Sou um anjo que não distingue os anjos
Sou amante dos Anjos.